Filosofia para quê?





Há já muito tempo que procuro saber para que precisamos nós da Filosofia. Não tendo ainda encontrado uma resposta, lanço aqui este texto que será certamente tomado como provocatório, ingénuo ou mesmo revelador de uma tremenda ignorância. No entanto reflecte a minha visão da Filosofia, especialmente na vertente em que esta procura definir o que é o Conhecimento.
Independentemente de todas as considerações e reflexões que possam ser feitas sobre a natureza do Conhecimento Humano, o único tipo de conhecimento que mostra uma evolução inequívoca, e que nos deu as ferramentas que todos usamos mais ou menos democraticamente, é o conhecimento Científico; desde a roda aos "microchips" dos computadores, passando pelas vacinas e antibióticos. E não é difícil de prever que continuará a fazer evoluir os nossos modos de viver.
Esse é para mim um facto indiscutível e incontornável. Esses outros tipos de conhecimento - filosófico, espistemológico, religioso e afins, são muito bonitos para termos discussões como esta sobre o valor e a natureza do conhecimento científico, mas há que ser honesto: estas discussões são becos sem saída. Não existem conclusões definitivas, mas também nem sequer temporárias como as "verdades" das teorias Científicas que vigoram até serem derrubadas por uma nova teoria que produz melhores resultados (ao nível da explicação dos fenómenos e da descrição/previsão dos mesmos).
Enquanto que o conhecimento Científico parece acumular-se de uma forma que parece aproximar-se cada vez mais de uma realidade que nem sequer procura discutir nem definir, gerando a eventual ilusão de que nos estamos a aproximar da "Realidade Última", as ideias Filosóficas parecem andar em círculos ao longo dos séculos. Pela própria natureza do que é discutido em Filosofia, não há sequer possibilidade de aferir sobre a maior ou menor aproximação à tal "Verdade" ou "Realidade", que no fim de contas todos procuramos.
No caso do Conhecimento Científico, desde que não se assuma demasiado dele, nomeadamente se não exigirmos que este represente a resposta aos nossos anseios Existenciais, então nunca desilude. Antes pelo contrário, sempre nos traz algo de novo, à medida que vai sendo construído.

Comentários

  1. Eu vejo as discussões filosóficas como uma espécie de incentivo, e que leva a ciência a fazer o trabalho de realmente desbravar o conhecimento.
    Nesse aspecto não me parece que a filosofia seja em vão.

    ResponderEliminar
  2. Eu tenho para mim que a Filosofia não gera conhecimento. Gera juízos, formas de pensar e conduzir comportamentos sociais, pessoais, económicos, políticos e assim por diante.

    Então quem gera conhecimento? A ciência. A experiência de vida. Outras?

    A Filosofia absorve os resultados (o conhecimento gerado) e produz juizos, reflexões, teorias.

    Esta parece ser a visão moderna e que nós temos interiorizada.

    Teorizar sobre a utilidade do Comunismo ou da Religião, se Portugal tem medo de existir ou se o homem é bom , isso não gera conhecimento per se.

    O que nós verificamos é que a Filosofia altera as sociedades. Devagar. Mas tem efeito. Eu penso que é porque as ciências e outras logias mais tarde ou mais cedo vão tropeçar na Filosofia e usá-la para gerar mais conhecimento.

    Atentemos no caso do abuso de menores do sexo masculino. No tempo da outra senhora, nem sequer era crime! Só depois da Revolução dos Cravos é que passou a sê-lo. O que se alterou? Já não estamos na Grécia Antiga, não é um discurso de um pedó... ah, vem daí...

    Não sei.

    Como dizia o Fernando Pessoa no poema "A Tabacaria": "A Metafísica é uma consequência de estar mal disposto".

    ResponderEliminar
  3. Eu acho que as estrelas são um bom exemplo do conhecimento filosófico. Pelo menos, inicialmente, a natureza e composição das estrelas era um problema filosófico. Problema porque ninguém sabia o que eram as estrelas, e filosófico porque não havia uma forma óbvia de resolver o problema. Não se conseguia ir lá ver o que eram.

    Por isso os primeiros passos foram especulativos e argumentativos. Devem estar longe, porque se estivessem perto haveria efeitos de paralaxe. Se estão longe devem ser grandes. Têm de ser feitas de algo que brilhe, etc.

    Eventualmente essa discussão foi tornando o problema mais claro e, com os avanços tecnológicos, tornou-se num problema científico. Mas não há uma fronteira exacta.

    Hoje a filosofia continua a servir porque há ainda problemas em que não conseguimos testar hipóteses e temos de os explorar com muita especulação e argumentação. A mente está cada vez mais perto de se tornar um problema científico, por exemplo, mas algo como a ética talvez nunca lá chegue. Ainda assim, é preciso percebermos o que queremos dizer, ter as ideias claras, ver se não se contradizem e encontrar um caminho até podermos testar algo. Julgo que é esse o contributo da filosofia e, como tal, é parte do conhecimento. É o primeiro passo da ciência.

    ResponderEliminar
  4. Tivesse a filosofia algum propósito economicamente rentável e ias ver se existia evolução ou não. Infelizmente (ou não) a filosofia não o faz, e como tal não existe essa tal evolução, ou pelo menos assim nos assim nos é apresentado.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Afinal qual foi o problema de Portugal?

Humor (com alho e ervas finas)

Usar a hipocrisia Social com peso e medida