Afinal qual foi o problema de Portugal?




Aprendemos todos na escola que houve um periodo da nossa história -  os descobrimentos - em que Portugal foi um reino grandioso entre os grandiosos. Caro Ricardo, dado que cultivaste alguns conhecimentos referentes à temática, e porque desde há muito tempo coloquei em dúvida a real extensão dessa grandiosidade, pego neste tema para encetar aqui uma conversa entre nós e quem mais queira aqui opinar, lançando as seguintes perguntas: 
 - Qual foi o verdadeiro peso e lugar de Portugal no plano Político e Económico da Europa desde o início da campanha das descobertas até ao seu declínio?
 - Portugal teve alguma vez poder de influência ao nível das relações internacionais? 
Parece-me que a existir, esse poder parece ter-se baseado em coisas efémeras porque não pareceu restar muito desse legado quando se passou para os séculos 18, 19 e 20.  Passámos ao lado da revolução científico-industrial dos séculos 18 e 19. E o nosso século 20 foi o que foi, um longo marasmo sustentado por um regime totalitário que sufocou quaisquer tentativas de modernização e de  acompanhar das tendências estrangeiras. De maneira que pergunto honestamente: enquanto cidadão Portugês, de que aspecto do nosso passado posso ou devo sentir orgulho? Como até agora nunca me convenci verdadeiramente de qualquer motivo genuíno para o sentimento, prefiro depositar esperança num futuro mais auspicioso, que resulte de um investimento mais bem sucedido do que foi a nossa participação nas tão famosas descobertas (ou descobrimentos como gostam de dizer os historiadores 😄 )

Comentários

  1. Caro Gajo,

    Pois devias ter orgulho em por essas perguntas. Elas sao o que qualquer portugues se devia perguntar. Eu proprio desde muito cedo me questionei, por exemplo com o seguinte: se afinal fomos nos que chegamos e comerciamos com a India, porque diabo e' que so se fala no Colombo?
    Como estive agora a discutir com a Manuela, parece-me que estas perguntas sao o resultado da percepcao que se tem actualmente da Historia (ou seja, daquela que e' ensinada, em Portugal e nos outros paises ocidentais), e nao da Historia em si.
    Os Descobrimentos (um processo) devem ser separados do Imperio.
    Ambos tem um valor proprio na historia da Humanidade e da Europa. Os Descobrimentos tiveram lugar na revolucao (pre-)cientifica da renascenca, em que se percebeu que "a experiencia e' a madre de todo o conhecimento" (Duarte Pacheco Pereira) e basta ver os roteiros de D. Joao de Castro para perceber como ele estava a desenvolver o metodo que agora chamamos de cientifico (D. Joao de Castro colaborava de perto com Pedro Nunes, e foi Vice-Rei da India; descobriu, entre outras coisas, o comportamento do campo magnetico, e porque e' que os nossos mapas nao batiam certo com os europeus na juncao do Mediterraneo com o Mar Vermelho - e' que os nossos eram baseados na astronomia e os outros feitos por rumo e estima).
    A nossa superioridade tecnologica era tal que um punhado de naus estabeleceu um imperio comercial que sobreviveu ate 1999.
    Sobre o Imperio propriamente dito, basta dizer que a partir da batalha de Diu em 1509, Portugal teve a hegemonia naval no Indico durante 100 anos (repara bem: e' muito tempo!! varias geracoes!! lembras-te de como era o mundo ha 100 anos??).
    A chegada de Portugal ao Indico e o inicio das rotas comerciais pelo cabo da boa esperanca teve como consequencia a queda de Veneza e do imperio Mameluco no Egipto. E dai a conquista do Egipto pelos Turcos e a formacao do Imperio Otomano. Veneza aliou-se aos Mamelucos e algumas potencias do Indico contra Portugal e foi esta alianca que foi derrotada em 1509 (com os malandrecos dos venezianos a fazer transferencia de tecnologia para nos fazer perder a vantagem - o mesmo processo que levou ao enriquecimento do japao, a fase actual da mundializacao e ao esperado declinio programado do ocidente face ao oriente. Uma vez perdida a vantagem tecnologica a forca volta a estar do lado dos numeros... mas isso e' outra Historia... ;-) ). Bom, mas nao conseguiram, e fomos nos que ganhamos.
    Um outro factor historico importante e' o Tratado de Tordesilhas. Portugal e Espanha eram de facto as duas superpotencias da altura. E Portugal e' que ganhou. Espanha so comecou a receber dinheiro das americas muito tempo depois. Colombo morreu pobre e esquecido, e sem nunca ter posto o pe na America - so nas Antilhas!

    Para se ter uma melhor ideia do que se fala aqui, recomendo a leitura de

    PAGE, Martin, The First Global Village, Lisboa, Editorial Notícias, 2003. (livro facil e agradavel. ja existe traducao portuguesa)

    BOUCHON, Geneviève, Vasco da Gama, Lisboa, Terramar Editores, 1998. (uma excelente historiadora. Livro muito elucidativo, sobre o personagem e as varias viagens)

    BOUCHON, Geneviève, Afonso de Albuquerque, Actas da Conferência Internacional Vasco da Gama e Índia, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1998. (idem)

    e, sobretudo, a serie iniciada por Devesas e Nascimento, na editora Centro Atlantico:

    Portugal - O Pioneiro da Globalizacao

    1509 - Batalha que Mudou o Dominio do Comercio Global


    Sites:

    www.instituto-camoes.pt/cvc/navegaport/index.html

    www.cienciaviva.pt/equinocio/index.asp

    e, por ser meia-noite por aqui ficamos...

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  2. Bom, para um post e um comentário, há aqui já demasiado material de discussão para o meu gosto!
    Quero dizer é que estamos a levantar muitas questões ao mesmo tempo.
    Assim vou retomar o cerne da minha questão:
    Se fomos assim tão tecnologicamente avançados, como é que se perdeu essa cultura pré-científica como dizes e se passou para uma cultura quase exclusivamente literária que perdurou até aos nossos dias!
    Eu atribuo muito do nosso atraso científico-tecnologico-industrial a essa supremacia da cultura literária, uma vez que sabemos bem quão necessário é o conhecimento experimental-positivista e mesmo empírico para desenvolver qualquer conhecimento verdadeiramente científico.
    Ouço por vezes comentar que esta supremacia da "cultura das letras" sobre "os números" é uma característica comum às restantes culturas Mediterrânicas. Portanto a minha provocação (eventual e assumidamente fora de contexto) é a seguinte:
    A Itália desenvolveu Ciência e engenharia (2 símbolos: Galileu e a FIAT).
    Quanto as espanhois, admito que não tenham tido nomes de 1ª linha nas ciências exactas mas acho que se puseram um bom par de anos à nossa frente no que toca ao uso da tecnologia( SEAT, energia nuclear e importação do TGV).
    E nós?

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  3. Vais masé trabalhar ohh , fazer qualquer coisa de util para a sociedade

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  4. Este último comentário tem a sua pertinência, pelo que o vou deixar cá.

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  5. Um pouco mais a sério, a hegemonia portuguesa ocorreu enquanto conseguimos ter mente aberta para fazer uma globalização multicultural e multirracial, a construção do império comercial (não confundir com o império de restou do desmoronamento deste) e do próprio país enraizou na multiculturalidade. Desde o Rei Fundador que a liberdade de culto Islâmico foi respeitado e apenas foi quebrado com a inquisição, mesmo se passou relativamente aos Judeus Sefarditas.
    Foi apenas quando nos deixamos dominar pela intolerância, eu diria estupidez, da inquisição e de uma noção de superioridade racial e cultural que o império comercial se desmoronou. Das cinzas saiu o império onde o Sol não se punha mas esse…
    Ps: Repara que o início de império comercial Holandês começou com o declínio do nosso… ficaram com os nossos Judeus!

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  6. Faltou o primeiro paragrafo no meu comentário, como é percetivel...

    Temos os UMM... o meu ainda roda!

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  7. Esta discussao e de facto interessante. Se me permitem, eu continuo convencido que o grande problema de Portugal foi a Igreja (sem recentimentos). Ainda ontem acabei de ler um romance historico (o livro de serviu de base a serie de televisao "A Ferreirinha"), onde se relata de forma clara que ainda no século XIX no Portugal profundo (Douro) as doenças se "curavam" com feitiços e rezas, os males eram causados pelo diabo, e se faziam sangrias para curar gripes. Uma autopsia era um insulto a Deus. Enfim... viviamos claramente num mundo do "oculto", em que a tentativa de ser critico perante os acontecimentos natuais era condenada seriamente pela Igreja.

    Este tipo de cultura entrou bem dentro pelo seculo XX. Nas aldeias do interior do país isso ainda é evidente: ainda se fala de bruxas! Ainda se vai à bruxa! Parece mentira mas é verdade.

    Sendo assim, obviamente que não é fácil desenvolver um país. E esse legado de falta de cultura cientifica (critica) veio ate quase aos nossos dias. Provavelmente a ditadura de Salazar nao ajudou a resolver o problema. Num país pobre, a prioridade das pessoas é sobreviver e não aprender.

    Tudo isto demora várias gerações a mudar. E eu tenho pouca dúvida de que a maioria dos portugueses ainda é "inculta" do ponto de vista científico (e não só). E sendo assim, a grande pergunta do momento é: será que vale a pena votar no partido A ou B se na prática não há material (pessoas) para construir um país forte?

    Ainda assim (terminando com esperança) acho que aos poucos a coisa está a mudar. E lá chegaremos... vai demorar, mas lá chegaremos.

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  8. Eu cá continuo com a impressão que foi o poder da igreja (poder nada científico e que impediu o pensamento crítico) que nos deixou de rastos. Agora resta-nos mudar algo que está enraizado na nossa cultura... e isso demora gerações.

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